domingo, 13 de abril de 2014
A lenda de Karnak (no país da memória)
O atual Palácio de Karnak foi adquerido ao sr. Mariano Gil Castelo Branco - o Barão de Castelo Branco - para o governo do Estado do Piauí, em 1924, pelo então governador João Luís Ferreira.
Anteriormente pertenceu o referido prédio ao ilustre Dr. Gabriel Luís Ferreira, pai de Dr. João Luís Ferreira, que fez a construção mais ou menos em 1885, residindo ali vários anos e mantendo também nesse local um colégio, onde estudou quase toda a infância e mocidade de recursos daquela época.
Já em 1874, o Frei Serafim de Catânia iniciara a edificação da Igreja de São Benedito e de então começaram a surgir, nesta parte da cidade, habitações confortáveis.
Exatamente no local comprado pelo Dr. Gabriel para fazer a casa que denominou Karnal, morava, havia anos, uma velha cujo nome era Justiniana. Ali ela tinha a sua choupana, criava galinhas, cultivava craveiros, fazia bolos fritos e também trabalhosas rendas de almofadas, que eram indispensáveis na confecção das ricas toalhas de batizados.
Na ocasião de dar início às obras, o Dr. Gabriel avisou à moradora que desocupasse o terreno com a maior brevidade possível.
A velha Justiniana, atendendo à ordem recebida, retirou-se dentro de poucos dias, mas, no momento em que deixava para sempre sua aprazível vivenda, ergueu o bastão e rogou, em voz alta, a seguinte praga: - “Tenho fé que todo aquele que para aqui vier, sairá como eu, às pressas”. Por uma mera coincidência, alguns governadores tiveram que deixar o Palácio de Karnak inesperadamente.
O próprio Dr. Gabriel Luís Ferreira, primeiro governador eleito da república, e que dava suas audiências no Karnak, pois naquele tempo aainda não havia sido adquirido para o Palácio do Governo o prédio da Praça Deodoro. Consta que ele foi desposto; pelo menos pressionado pelos militares, deixou o governo às pressas e viajou.
Entretanto, a julgar pelos últimos tempos, a terrível praga nos sugere esta alternativa: ou perdeu o valor ou a velha Justiniana resolveu revogá-la.
A vida tem seus mistérios.
Nota: Quando eu tinha dez anos de idade, um dia chegando à venda do sr. Segisnando, ele contava a história, ouvida de seu pai, que narrei com a máxima fidelidade, omitindo apenas alguns detalhes que julguei sem importância.
(Texto de Helena Aguiar Jacques, do livro Genu Moraes, a mulher e o tempo de Kenard Kruel)
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Um comentário:
obrigado pela citação, mestre.
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