(Edmar Oliveira)
Andei por aí, e depois até conto por aqui. O meu destino era
o “umbigo do mundo”. Volto a ele. Mas desembarquei em Lima sem conhecê-la.
Surpresa. Adorei. Povo bom e muito igual a nós, com um problema: todos tem a
mesma cara do Inca velho e aí nos confunde. Fui compreendendo. O trânsito é de
uma incompreensão sem sinais. Mas gostei. Taxi não tem taxímetro: discutimos a
distância e o preço na hora. Vez por outra me dei bem, outras não, mas é do
jogo. Gosto dessa desorganização. Entretanto, a gentileza de todos com a mesma
cara era sempre a mesma. Bem perto do hotel, em Miraflores, quase a Ipanema ou
Leblon limenho, um sítio arqueológico: Huaca Pucllana! Simplesmente fenomenal:
uma pirâmide de adobe, argila pura, de muitos metros quadrados e muito alta.
Andamos conduzidos por um guia mostrando tumbas e sarcófagos pré-incaicos. Tudo
de argila. Os “tijolos” de adobes são erguidos feitos livros de uma biblioteca.
Incrível são os três centímetros de distância entre os “livros”: anti-sismos! A
pirâmide balança e choaqualha nos terremotos, mas não cai. Genial. Mais interessante ainda:
antes era um morro de argila frequentado por motoqueiros. Bem perto daqui, em
1987, foi tombado e conservado no centro da capital peruana. Mas porque está
ali a nos desafiar com o passado pré-inca de antes de Cristo? Se todo o monumento é de argila e se
dissolveria em água?
Mistério limenho: lá o sol não aparece. As nuvens o
encapsulam. Vindo dos Andes e com o ar frio do Pacífico mantém a capital
peruana, que fica na mesma latitude de Salvador, sempre fresca no verão e fria
no inverno. Mais ainda: não chove nunca! Por isso a pirâmide de argila ainda
hoje está de pé! As ruas de Lima não têm bueiros por falta de água para escoar.
Se bebe a água dos Andes, que escorre em córregos até o mar. Miraflores e
outros bairros limenhos ficam numa falésia de argila, muito acima do nível do
mar, esperando um maremoto. A cidade estremece com tremores vez em quando. A
periferia tem casas sem teto: não chove e não tem sol. Adorei essa faceta.
Fresco, sem sol e sem chuva.
Uma amiga não gostou da minha argumentação e admiração.
Dizia que bom era sem chuva, mas com sol! Como gostam os cariocas.
Aí não me contive: sem chuva e com sol, essa cidade já
existe: Teresina!
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