Não de todo. Sérgio não desceu do cometa, só está passando por aqui outra vez...
(Edmar Oliveira)
Com arranjos de Henrique Cazes, que também divide a produção com José Milton, “Sergio Samba Sampaio”, este CD do paraibano, mas carioca de coração, Chico Salles revela uma faceta da vasta obra de Sérgio Sampaio e mostra sua paixão antiga pelos sambas-canções e suas letras bem humoradas, inteligentes e ainda atuais.
Com participações de luxo, como a do Zeca Baleiro, que já lançou o projeto O Balaio de Sampaio em 1998, agora divide os vocais com Chico no samba História do Boêmio, de Raimundo Fagner em “Cada Lugar na Sua Coisa” e o legítimo sambista Zeca Pagodinho em “Polícia, bandido, cachorro, dentista”, todas de autoria de Sérgio Sampaio, o álbum tem distribuição do selo ZecaPagodiscos.
“A ideia deste CD surgiu depois ouvir novamente, tempos depois, os LPS do Sergio Sampaio, motivado pelo amigo Edmar Oliveira”, conta Chico Salles. “Ter a participação destes três expoentes da nossa canção, foi enormemente gratificante e qualificador para o projeto, pela generosidade e sensibilidade dos três. Reler Sergio Sampaio é se atualizar com a picardia e irreverência brasileira. Nada é mais contemporâneo na nossa música popular”.
Chico Salles já lançou cinco discos, todos na ceara do forró, mas com pitadas de sambas: “Confissões” (2000), “Nordestino Carioca” (2002), “Forrozando” (2005), pelo qual foi indicado como melhor disco e melhor cantor na categoria regional ao Prêmio TIM de Música, hoje Prêmio da Música Brasileira, “Tá no Sangue e no Suor” (2007) e "O Bicho Pega" (2010).
Paraibano de Souza, Chico Salles chegou ao Rio de Janeiro nos anos 70. Forrozeiro, cantador e cordelista, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel desde maio de 2007, onde ocupa a cadeira nº. 10, que originalmente pertencia a Catulo da Paixão Cearense, sempre circulou com desenvoltura pela cidade, incorporando a ginga do samba carioca à força da música da suas origens sertanejas. Nos anos 80, conheceu os redutos do samba carioca através de seu amigo trapalhão Mussum - com quem travou parcerias musicais e fundou o bloco Elas e Elas em 1985. Outras parcerias que surgiram naquela época - e perduram até hoje - foram com Noca da Portela, Roberto Serrão e Beto Moura.
Hoje, Chico Salles já tem uma carreira consolidada, circula entre as melhores rodas de samba e forró do Rio de Janeiro e participa de vários projetos. Além disso, ganhou concursos de melhor samba enredo em vários blocos da cidade, nos anos 90, como Simpatia é Quase Amor, Barbas, Elas e Elas, Banda da Barra e Vem Cá me Dá.
Com esta vivência, Chico mostra em “Sérgio Samba Sampaio” todo o seu cacife para tirar do baú músicas do compositor pouco conhecidas do público, que tem como referência na memória apenas seu hit “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, de 1972, que ganhou o Festival Internacional da Canção ao ser apresentada no Maracanãzinho, naquele ano.
Mas a obra de Sérgio Sampaio é vasta e este projeto vem contribuir para recolocar seu nome de na ordem do dia. Ele integra uma galeria de "malditos" da MPB, que incluiria Melodia, Itamar, Torquato Neto, Macalé, Mautner e Arrigo. Hoje foi redescoberto num culto novíssimo e nada saudosista em torno do artista que, como o texto de Edmar Oliveira diz na abertura deste release, “passou pela música brasileira preso ao rabo de um cometa”.
Henrique Cazes ressalta o quanto Sampaio sabia fazer samba com qualidade e originalidade. “Muitos dos sambas do disco não foram gravados originalmente como sambas clássicos e agora ficaram mais valorizados com esse tipo de instrumentação (violões, cavaquinho, acordeom, muita percussão) e arranjo. Sérgio fazia samba como uma forma de transgressão, já que a ‘máquina’, a gravadora, o mercado, esperava que ele fosse pop. Ele fala disso na letra do Velho Bandido. Ele transgredia dentro da própria transgressão”, completa o músico e arranjador.
“Gravar Sérgio Sampaio hoje é de enorme importância”, opina José Milton, “pois ele foi fundamental pra música brasileira; deixou vários discos bons. Era um compositor talentoso, um poeta cru, explícito na veia”.
Chico Salles - Sérgio Samba Sampaio
Lançamento ZecaPagodiscos
Preço médio: R$ 25,00
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