domingo, 22 de dezembro de 2013

Sergio Samba Sampaio de Chico Sales




Sérgio Sampaio passou pela música brasileira preso ao rabo de um cometa. Foi como um raio. Talvez uns imaginassem tê-lo visto. Outros nem lembram. Parece que não era o seu tempo e Sérgio vive num futuro para aparecer vez ou outra na passagem do cometa. Entre os acordes da Tropicália e um rock maluco beleza ouviu-se o barulho do bloco na rua, que não ganhou, mas é essa marcha-rancho que lembra o Festival da Canção de 1972. E ficou martelando na cabeça de todo mundo. Só que ele tinha uma paixão antiga aos sambas-canções de Orlando Silva, Sílvio Caldas e Nelson Gonçalves que talvez reacendeu quando esse Sampaio Teimoso “andava da Lapa a Copacabana a pé”. E é essa faceta que este trabalho pretende mostrar. Sérgio Samba Sampaio tenta fazer ouvir apenas os sambas que não foram percebidos na passagem do cometa. Chico Salles, um cordelista forrozeiro com um pé no samba, canta também esse estrangeiro do samba reconhecidamente carioca. Aqui, outros dois estrangeiros, Raimundo do Ceará e Baleiro do Maranhão, também emprestam uma ajuda luxuosa para a construção dessa homenagem. Mas é o legítimo sambista Zeca Pagodinho quem assina o canto desse Sérgio Samba Sampaio. E com respeito ao samba de Sérgio perdido na passagem do cometa, Henrique Cazes dedica seu talento a essa homenagem, traduzido no trabalho primoroso dos arranjos. O extraordinário José Milton ainda ajuda a lustrar a produção desse trabalho coletivo. Então não é por acaso que Sérgio lembra Cartola, Cavaquinho, Adelino. E nas letras ele transgredia o conformismo dos anos de chumbo de então para falar aqui no futuro em sambas que só agora podem ser mais bem compreendidos.
Não de todo. Sérgio não desceu do cometa, só está passando por aqui outra vez...

(Edmar Oliveira)





 Com arranjos de Henrique Cazes, que também divide a produção com José Milton, “Sergio Samba Sampaio”, este CD do paraibano, mas carioca de coração, Chico Salles revela uma faceta da vasta obra de Sérgio Sampaio e mostra sua paixão antiga pelos sambas-canções e suas letras bem humoradas, inteligentes e ainda atuais.

Com participações de luxo, como a do Zeca Baleiro, que já lançou o projeto O Balaio de Sampaio em 1998, agora divide os vocais com Chico no samba História do Boêmio, de Raimundo Fagner em “Cada Lugar na Sua Coisa” e o legítimo sambista Zeca Pagodinho em “Polícia, bandido, cachorro, dentista”, todas de autoria de Sérgio Sampaio, o álbum tem distribuição do selo ZecaPagodiscos.

“A ideia deste CD surgiu depois ouvir novamente, tempos depois, os LPS do Sergio Sampaio, motivado pelo amigo Edmar Oliveira”, conta Chico Salles. “Ter a participação destes três expoentes da nossa canção, foi enormemente gratificante e qualificador para o projeto, pela generosidade e sensibilidade dos três. Reler Sergio Sampaio é se atualizar com a picardia e irreverência brasileira. Nada é mais contemporâneo na nossa música popular”.

Chico Salles já lançou cinco discos, todos na ceara do forró, mas com pitadas de sambas: “Confissões” (2000), “Nordestino Carioca” (2002), “Forrozando” (2005), pelo qual foi indicado como melhor disco e melhor cantor na categoria regional ao Prêmio TIM de Música, hoje Prêmio da Música Brasileira, “Tá no Sangue e no Suor” (2007) e "O Bicho Pega" (2010).

Paraibano de Souza, Chico Salles chegou ao Rio de Janeiro nos anos 70. Forrozeiro, cantador e cordelista, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel desde maio de 2007, onde ocupa a cadeira nº. 10, que originalmente pertencia a Catulo da Paixão Cearense, sempre circulou com desenvoltura pela cidade, incorporando a ginga do samba carioca à força da música da suas origens sertanejas. Nos anos 80, conheceu os redutos do samba carioca através de seu amigo trapalhão Mussum - com quem travou parcerias musicais e fundou o bloco Elas e Elas em 1985. Outras parcerias que surgiram naquela época - e perduram até hoje - foram com Noca da Portela, Roberto Serrão e Beto Moura.

Hoje, Chico Salles já tem uma carreira consolidada, circula entre as melhores rodas de samba e forró do Rio de Janeiro e participa de vários projetos. Além disso, ganhou concursos de melhor samba enredo em vários blocos da cidade, nos anos 90, como Simpatia é Quase Amor, Barbas, Elas e Elas, Banda da Barra e Vem Cá me Dá.

Com esta vivência, Chico mostra em “Sérgio Samba Sampaio” todo o seu cacife para tirar do baú músicas do compositor pouco conhecidas do público, que tem como referência na memória apenas seu hit “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, de 1972, que ganhou o Festival Internacional da Canção ao ser apresentada no Maracanãzinho, naquele ano.

Mas a obra de Sérgio Sampaio é vasta e este projeto vem contribuir para recolocar seu nome de na ordem do dia. Ele integra uma galeria de "malditos" da MPB, que incluiria Melodia, Itamar, Torquato Neto, Macalé, Mautner e Arrigo. Hoje foi redescoberto num culto novíssimo e nada saudosista em torno do artista que, como o texto de Edmar Oliveira diz na abertura deste release, “passou pela música brasileira preso ao rabo de um cometa”.

Henrique Cazes ressalta o quanto Sampaio sabia fazer samba com qualidade e originalidade. “Muitos dos sambas do disco não foram gravados originalmente como sambas clássicos e agora ficaram mais valorizados com esse tipo de instrumentação (violões, cavaquinho, acordeom, muita percussão) e arranjo. Sérgio fazia samba como uma forma de transgressão, já que a ‘máquina’, a gravadora, o mercado, esperava que ele fosse pop. Ele fala disso na letra do Velho Bandido. Ele transgredia dentro da própria transgressão”, completa o músico e arranjador.

“Gravar Sérgio Sampaio hoje é de enorme importância”, opina José Milton, “pois ele foi fundamental pra música brasileira; deixou vários discos bons. Era um compositor talentoso, um poeta cru, explícito na veia”.


Chico Salles - Sérgio Samba Sampaio
Lançamento ZecaPagodiscos
Preço médio: R$ 25,00

Nenhum comentário: