domingo, 13 de junho de 2010

Futebol, ganhar ou perder, eis a questão


Geraldo Borges

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O futebol é uma instituição que herdamos da cultura inglesa, e que a partir do começo do século vinte começou a tomar fôlego em nossa sociedade a partir principalmente da região Sudeste. Caiu no gosto da classe media, da plebe, das altas rodas, e até mesmo de muitos intelectuais. Lima Barreto, em uma de suas crônicas de 1918 diz: Nunca foi de meu gôsto o que se chama Sport, esporte ou desporto. Ele estava tratando especificamente de foot Ball, que com o passar dos anos se adaptou ao neologismo futebol, que pode ser traduzido por pé na bola. Graciliano Ramos também em 1921 fala sobre futebol em uma crônica publicada no seu livro Linhas Tortas. Ele é de opinião que o futebol não emplacaria, não teria toda esta febre atual que vemos, pelo menos no Nordeste. Não acertou. O escritor aconselhava como esporte nacional a rasteira, principalmente para os políticos.

.O futebol e o carnaval são os bondes da alegria que conduzem o Brasil e seduzem toda a sociedade. Funciona como válvula de escape da pressão social. Já José Lins do Rego adorava futebol, era torcedor fanático do Flamengo. E Nelson Rodrigues, que inventou o complexo de vira lata para o brasileiro, que até hoje não conseguiu se livrar dele mesmo sendo penta campeão, era torcedor do fluminense, do velho fluminense de Castilho, Pindaro e Pinheiro. Coelho Neto parece que gostava muito de futebol. Não sei bem. Mas das minhas rápidas leituras sobre ele fiquei sabendo que tinha um filho que era jogador. E uma pista.

Estamos em plena Copa do Mundo, disputada em um país de maioria negra, colonizado por ingleses, onde rola uma bola colorida. E se o Brasil ganhar esta Copa? Nem pensar. Sinceramente. Eleitoralmente.

O que consagra um jogador não é ganhar ou perder uma Copa. O que consagra um jogador é o seu desempenho. E a ovação da torcida. Todo mundo conhece o jogador Sócrates. Nunca foi campeão mundial. Mas que classe. Um atleta de primeira grandeza, não era só bom de pernas, tem, também, uma cabeça que pensa, e Falcão, idem, também não foi campeão, mas que moço de sensibilidade, um grande amigo do poeta Mario Quintana, que não vestiu o fardão da Academia, mas, em compensação, virou passarinho, e o Casa Grande, Zico, Careca, todos consagrados, respeitados, mesmo na derrota. Pois nunca foram campeões mundiais. Isso me fez lembrar Lima Barreto, Monteiro Lobato, Graciliano Ramos, Mario de Andrade, todos consagrados, e nunca foram eleitos para a Academia.

E se o Brasil não ganhar esta Copa, não trazer o caneco? O que é pior. Nem pensar. Uma nuvem de água fria vai cair na cabeça de uma multidão que em breve vai ter de enfrentar um pleito eleitoral. Bom. Que tudo corra em paz. As zebras estão na África,

O Brasil já é campeão de muita coisa, coisas que a gente mostra e coisas que a gente esconde. E mesmo perdendo a copa a gente ainda continua na dianteira. Somos penta. Se chegarmos a hexa muita gente vai pronunciar o nome grego, mas a maioria não vai saber escrevê-lo, vão dispensar o H.

Acredito que, um espectador de futebol, esteja em uma arquibancada, ou em qualquer lugar privilegiado do estádio, ou, em sua casa, sentando em uma poltrona, na frente da televisão, jamais verá um jogo em toda a sua plenitude se comportar-se de uma maneira unilateral frente as performances das equipes. Tem de ter a vista pronta para todos os lances se ficar exaltado com o seu time ficará cego, e não contemplará a beleza do jogo. Em uma Arena os espectadores torcem pelo novilho enfezado, ferido, ou pelo toureiro? Ou se delicia com o todo do espetáculo? Só Deus sabe qual dos dois animais será sacrificado. Hemingway entendia disso.

Assim me espelho no futebol. Quero o espetáculo, não estou preocupado com a vitória de A ou B. Argentina, Brasil. Mera coincidência. O meu nacionalismo está alem do rio da Prata. Não tenho nada contra Diego Maradona, muito contra Dunga. Tanto faz a gente gritar pelo Brasil ou Portugal ou qualquer time da Europa tudo é Brasil. Pois os nossos jogadores estão sendo exportados, perdendo o adjetivo pátrio, naturalizando-se onde vestem a camisa, e não vai demorar muito todas as seleções vão ter sangue e suor brasileiro. Só vai mudar a cor das camisas, e os brasões no peito. Até mesmo o modo de jogar da nossa seleção já é Europeu. Um esquema tático moderno.

Perder ou ganhar, eis a questão. O certo é que ninguém perde com o futebol. A seleção mundial é de quatro em quatro anos, enquanto o campeonato estadual e outras modalidades acontecem de ano em ano. E é nesses entreveros que aparecem os grandes gladiadores, que, geralmente, vêm de baixo para não dizer de cima do morro. Sim, Gladiadores. Por que o futebol é figuradamente um arremedo dos gloriosos tempos romanos no Coliseu. Só que agora a coisa é menos violenta. A arma fundamental, e o drible, o chute seco, rasteiro. Um petardo em direção ao gol. Ou uma cabeçada.

Mas quem menos ganha com o futebol é a torcida, suas vitorias são sempre desgastante, repletas de suspenses, peripécias, na narração de Galvão Bueno, e nos comentários de Falcão ou Casa Grande. E o pior de tudo é quando perde. Um tem que perder. Às vezes empata Parece que é pior. Têm torcidas que fazem um deus nos acuda da derrota e terminam entrando em guerra com a vitoriosa, que pensa que é dona do time. Dos cartolas não é preciso falar nada, estes sim são os verdadeiros vitoriosos Por isto mesmo vou ficar por aqui para não entrar na questão da mídia transvertida de publicidade, esta vara de condão que seduz a torcida delirante.

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