(Geraldo Borges)
Há três opções para uma leitura da antologia – Baião de
Todos, editada pela Fundapi, e organizada por Cineas Santos e Keula Araujo.
2016, Teresina Piauí.
A primeira seria aleatoriamente, abrindo aqui e ali, uma
pagina do autor que chamasse atenção do leitor, por simpatia, ou, mesmo, por
preferência de estilo, titulo e tema; e saboreando ao seu bel prazer, até mesmo
por que a antologia é um leque de várias cores temática, um mergulho nas profundezas
da alma dos poetas na luta com a
inspiração.
A segunda leitura
seria a linear, quer dizer, a forma em que o livro foi montado. Ordem
alfabética de A W, terminando com o Wiliam Soares o consagrado poeta de nossa
cidade e que vive levitando pelas ruas com o seus passos em câmara lenta.
A terceira leitura seria em ordem cronológica, o que poderia
muito bem explicitar os estágios da poesia brasileira de expressão piauiense. Claro que esta leitura não é possível, já que
a antologia não foi organizada em ordem cronológica. Mas,
pensando bem, as sintéticas informações biográficas, em parte, ajudam bastante
ao leitor que se propõe a estudar com mais empenho a nossa literatura
Quanto a ilustração a capa do meu amigo Amaral é muito
bonita. Uma revoada de pássaros. Poesia. Mas não reflete o miolo da antologia,
que, no meu entender, é a contradição do novo na luta contra o antigo. A não
ser que a revoada de passarinhos signifique um bando de poetas perplexos em sua
cidade sitiada.
Quanto a qualidade da antologia Baião de Todos é um bom
prato, pena não ter aparecido mais convidados.
A gente ler e fica lambendo os beiços. Tem sabor para todos os
paladares, os mais bizarros e esquisitos. Os poetas surpreendem, tanto os mais
novos como os mais antigos. Uma das características dos poetas é cantar a sua
terra. Celebrar a sua aldeia. E o que tem de sobra em Baião de Todos. Vejamos.
Graça Vilhena:
“ No mercado central
As verdureiras arranjavam
Buquês de cheiro verde “
Os exemplos são muitos, o leitor pode conferir no livro. Os
poetas mais antigos falam de uma velha província, que jamais será restaurada a
não ser na memória e imaginação dos poetas. Os poetas mais novos, que cresceram
dentro de um cenário de uma cidade em transição, que se verticalizou em
concreto, cantam sua cidade dentro de outro compasso. Uma cidade estilhaçada
por contradições. Contradições bem colocadas como se pode ler nos versos de
Lívia Maria;
‘ Amar é ter uma bicicleta
mesmo morando no terceiro andar
E sentir uma euforia quando tudo é cansaço ‘
Exemplar. A bicicleta é o novo instrumento da modernidade que
terão de enfrentar os novos poetas do Baião de Todos. A maioria não acredita
mais em musa, essa velha puta romântica. Por isso mesmo terão que pedalar muito
e sentir euforia quando tudo é cansaço. Porque sem alegria e estudo não existe
inspiração.
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