Depois da
lamentável tragédia de Santa Maria, prefeitos e governadores país adentro
resolveram fazer um trabalho que deveria ter acontecido na natureza do cotidiano.
Examinaram os locais de espetáculos e que reúnem usuários de serviços, verificando
quem tem alvará de funcionamento. E descobrimos que muitos destes espaços
públicos ou privados não estavam aptos ao funcionamento. Situação surrealista,
da qual as autoridades não se envergonham!
Por outro lado,
oportunistas representantes do povo no Congresso Nacional se arvoram em
preparar mais leis que não serão cumpridas. Pois as que existem, se obedecidas,
já bastariam.
No Rio de Janeiro
são 49 espaços culturais públicos que estão impedidos de funcionamento até a
regularização. Segundo uma autoridade municipal, o arroubo oficial é: “Não tem,
não funciona”. E é idiota quem pensava que assim deveria ser desde sempre e não
agora que a tragédia da irresponsabilidade pública e da ganância empresarial se
abateu sobre os gaúchos.
Ora, quem conhece
o funcionamento das instituições desse país sabe de como se oferece uma
burocracia dificultosa pra vender facilidades com o jeitinho da corrupção que
vivemos no dia-a-dia. E aí se cria um funcionamento provisório até a
regulamentação dos documentos. Só agora o alcaide carioca diz bravatas tipo: “não
tem alvará, não funciona”. Deveria ser assim
desde sempre. E a gente sabe que se não “molhar a mão do fiscal” a documentação
não sai. Se a água for muita os documentos ficam prontos, mesmo que as normas
não tenham sido respeitadas. Nos espaços públicos a morosidade da burocracia
fica tão devagar que às vezes para.
Se as leis que
regulamentam o assunto fossem obedecidas e se funcionar sem elas seria estar
fora da lei, se os órgãos fiscalizadores impedissem o funcionamento dos estabelecimentos
fora da lei, as tragédias teriam um responsável no agente da lei que liberou
fora das normas ou do dono do estabelecimento que funcionou burlando a lei. Não
essa confusão entre eles, tendendo a não aparecerem os culpados.
Voltando ao
alcaide carioca e o fechamento dos espaços públicos, algo que deve ocorrer,
nesse surto de hipocrisia, por todo o país: foram fechados, para o cumprimento
de normas que deveriam já ter sido cumpridas, 13 teatros (alguns deles, como o
Carlos Gomes, funcionando desde o começo do século passado), 16 museus (entre
eles o Castelinho do Flamengo, um dos prédios mais antigos da praia do Flamengo
e o Memorial Getúlio Vargas, moderna e ampla construção recente), 9 bibliotecas
(que, sejamos honestos, nunca estão tão lotadas que não se possa evacuar
funcionários e raros leitores) e 10 lonas culturais (a maioria no subúrbio,
única diversão e projetos executados pela própria prefeitura recentemente). A
maioria espaços culturais não têm alvarás pela leniência e desleixo da
burocracia pública. Melhor teria sido ordenar aos órgãos públicos
fiscalizadores que cumprissem seu dever imediatamente e só interditar os que
não pudessem ser regularizados. Falamos dos espaços culturais públicos e não
das arapucas privadas, que deveriam receber o lacre até a liberação de fato,
sem funcionamento provisório. Como deveria ter sido desde sempre. E não esquecidas
depois, até acontecer nova tragédia.
Eu frequento a
biblioteca de Botafogo, que fica perto de casa. Até na palestra do Mia Couto
eram muitas as portas por onde poderíamos sair se algo desse errado. No
dia-a-dia então nem se fala. A única perda é proibir os meninos de saber que “viver
é muito perigoso”, como diz o Rosa para os sertões sem nunca ter frequentado
uma discoteca.
Fico aqui
pensando se não seria melhor interditar alguns órgãos públicos fiscalizadores e
lacrar algumas prefeituras, proibindo o seu funcionamento até a regularização
da situação...
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Desta vez deixarei vocês por um mês. Devido a agitação do carnaval e ao calor teresinense do Rio de Janeiro, o Piauinauta vai à Patagônia para um refresco nos lagos andinos. Continuem lendo as postagens dessa quinzena: o lamento de Graldo Borges, os infernos do Lázaro, o check in de Jorge Ferreira, o sertão de Climério, klöZ por 1000TON, Aderval lembrando Caetano e a jovem guarda, a advertência do Cinéas, o bonde de Santa do Chico Salles, o caravelle de Paulo Tabatinga. Hoje os poemas dominam a folha. E abraçaço, como diría a neguin'a baiana e ouçam ele cantando a rosa vermelha, junto com Ronnie Von, no link da postagem do Dervas. Voltaremos em 3 de março, talvez.
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Desta vez deixarei vocês por um mês. Devido a agitação do carnaval e ao calor teresinense do Rio de Janeiro, o Piauinauta vai à Patagônia para um refresco nos lagos andinos. Continuem lendo as postagens dessa quinzena: o lamento de Graldo Borges, os infernos do Lázaro, o check in de Jorge Ferreira, o sertão de Climério, klöZ por 1000TON, Aderval lembrando Caetano e a jovem guarda, a advertência do Cinéas, o bonde de Santa do Chico Salles, o caravelle de Paulo Tabatinga. Hoje os poemas dominam a folha. E abraçaço, como diría a neguin'a baiana e ouçam ele cantando a rosa vermelha, junto com Ronnie Von, no link da postagem do Dervas. Voltaremos em 3 de março, talvez.
2 comentários:
Edmar, nunca gostei de boates, talvez inconscientemente prevendo perigo. Todas as casas de shows fechadas são prédios bomba por conterem materiais altamente inflamáveis e poucas possibilidades de saída. E olhe que não precisa ser especialista no assunto nem frequentador assíduo para fazer esta análise. O poder público e o grande capital estão em sintonia, ou seja, de olhos fechados para essa situação. Aqui a prefeitura chamou para uma reunião (agora,no calor das chamas de Santa Maria) todos os donos de casas noturnas.
Edmar, compreendo e concordo com o seu pensar, acrescentando que o título deveria ser EPIDEMIA e não SURTO.
Chico Salles
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