domingo, 3 de fevereiro de 2013

O BONDE DE SANTA


 
 
Muito jovem adolescente
Vim pro Rio de Janeiro
Foi no ano de setenta
E no mês de fevereiro
Num tempo de excessão
Ditadura, agitação
Com o povo brasileiro.

Como tantos Paraíbas
Vim buscar vida melhor
Queria conhecimento
E viver do meu suor
Queria também profissão
Lazer e educação
Recitar cordel de cor.

O Rio maravilhoso
Ganhou-me logo de cara
Vi do Cristo Redentor
Baia da Guanabara
Zona Norte, Zona Sul,
Céu e mar de cor azul
Começou minha seara.

O Paulinho da Viola
Com o sucesso total
O Rio na minha vida
Chegou no maior astral
Ainda sem teorema
Na Banda de Ipanema
Embarquei no carnaval.

O Rio me conquistou
De forma definitiva
Hoje sou seu cidadão
Orgulho que me cativa
Também com filhos e netos
Amizades e afetos
Contundente afirmativa.

Das belezas da cidade
Por uma tenho paixão
Que vou tentar descrever
Esta útil condução
Por ser modesta e pacata
E também porque retrata
A grandeza da razão.

Tem uma grande história
História de resistência
Vem do século dezenove
Com luta e coerência
Era puxado por burros
Comedidos nos seus urros
Para manter a cadência.

Sobe, desce, faz a curva
Andando sempre no trilho
Mostrando aos passageiros
A beleza e o brilho
Desta cidade formosa
Linda e Maravilhosa
Fazendo seu estribilho.

Enfrentou diversidades
De todo tipo tamanho
Intempéries, correntezas
Também palpites estranho
Sempre pedindo passagem
E revalando paisagem
A alegria do sonho.

Um centenário veículo
De massa e dignidade
Ligando Santa Teresa
Com o resto da cidade
Cartão Postal do Brasil
É um transporte gentil
De grande utilidade.

Bem aos pés do Redentor
Acima do Catumbi
Saindo da Carioca
Fazendo seu frenesi
Passeando nas ladeiras
Lapa, Glória, Laranjeiras,
Tudo pertinho Dalí.

Desde Barão de Mauá
Um ambiente de luta
Depois da segunda guerra
Incrementa a labuta
Uma aparente verdade
Chamada modernidade
Impôs-se como conduta.

Foi extinto do Brasil
A Rede Ferroviária
Sucateado seus bens
Em perseguição diária
A chegada do pneu
Com o capital fariseu
Consciência adversária.

A luta ganhou contornos
De poesia e paixão
Envolvendo operários
Mídia e população
Numa canção afinada
Reta e abnegada
Prá manter a tradição.

Leva e traz diariamente
Comerciantes, turistas,
Estudantes, militares,
Trabalhadores, artistas
Sapateiros, alfaiates,
Escritores, engraxates,
Cantadores, jornalistas.

Andavam pelo Bondinho
Com o povo da cidade
Chiquinha Gonzaga, Drumont,
Também Mário de Andrade
Oswaldo Cruz, Djanira,
Machado, Bilac e a lira,
Nesta singularidade.

Pascoal Carlos Magno
E Ruy Barbosa também
No geme geme do trilho
Estribo no vai e vem
Política, literatura
Poesia, arquitetura
A cultura só faz bem.

Mostra o Rio inteiro
Real em todos os ângulos
Os bares, ateliês,
As fachadas e retângulos
Praças, becos e vielas,
Poucas linhas paralelas
Faço aqui este preâmbulo.

Parece o sangue nas veias
Nesta imagem hipotética
Alimenta o coração
Imaginação poética
Fotografia do tempo
Agradável passatempo
Na minha visão sintética.

Por ser frágil e modesto
Precisa de atenção
Cuidados especiais
Na sua manutenção
Que deve ser permanente
Pontual, eficiente
Na sua execução.

O BONDE de SANTA é
Joia rara, diamante,
Um bibelô, um presente,
É um pequeno gigante
Faz parte desta cidade
Alem de ser na verdade,
Essencial integrante.

Um prestador de serviços
Desses de muitos quilates
Como se fosse um doce
O melhor dos chocolates
É o passado presente
Precisa urgentemente
Ocupar os seus destaques.

Mas, nossas autoridades,
O Poder Público, enfim,
Distante de nossas causas
Não compreendem assim
Por isso tanto descaso
A demora o atraso
Confirmo neste pasquim.

Deveria ser tratado
Com mais desvelo e cuidado
Por ser um equipamento
De patrimônio tombado
Com seu histórico valor
É também merecedor
De carinho e amparo.

Há tempos está parado
Devido a um acidente!
Por falta de atenção
E gestão incompetente
Ouvi dizer de má língua
Que irá morrer à míngua
Não voltará pro batente.

Encheram Santa Teresa
De transporte alternativo
Com várias linhas de ônibus
Faltando o seu atrativo
Um remédio que piora
O doente, pois demora,
Com efeito, relativo.

No Curvelo chega e sai
Na mão do seu motorneiro
No Largo dos Guimarães
Ucas no bar do Mineiro
Carmelitas, carnaval,
Ele é seu essencial
Componente pioneiro.

Venho pedir, implorar,
Hoje aqui neste papel
A paciência dos justos
A leveza do pincel
Que volte o BONDE de SANTA
Feito o verso que encanta
O canto deste cordel.

Nenhum comentário: