domingo, 26 de março de 2017

Salgado Maranhão

A imagem pode conter: comida
desenho: Amaral

COMO UM RIO 9

Trouxeram-nos até aqui
à pilha da usura --
com louvores e degolas
laureadas;

trouxeram-nos até aqui
(a guindaste) para brotar
nos caules secos:

o vento cáustico e a razão
muscular inaugurando
a dor;

o longo acervo de auroras
para guardar constelações
de mármore.

E o lavrar do braço
que arrima a luz
e as flores(o braço
açoite e capuz).

Então durmo sobre a fenda
aberta à radiação
dos séculos,

e sigo com os que perderam
a caravana de volta:

o que ainda não sou
me acena o penhasco.

Quem ergueu esse trapézio
com as cordas rotas?

Quem semeou esse pomar
de nuvens?

O poema pede silêncio
para sonhar.

(SALGADO MARANHÃO)






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