A última vez que pesquei no rio Poty
eu morava no Conjunto Primavera II. Era só atravessar a Avenida Duque de Caxias
e o Parque da Cidade, antigo bosque da Fazenda do prefeito José Olímpio de Melo,
alcançava-se à beira do rio.
Começamos a pescar à boca da noite. Havia lua cheia e estava
tudo claro, o leito do rio fluía e ainda não estava coberto de aguapés. Levávamos
engodo feito de tapioca, grude, para servir de isca para as piabas. O plano era
pegarmos piabas para fazer isca para pegar piranhas. Os pescadores, eram eu,
meu filho, e alguns vizinhos da idade de meu filho, residentes da favela ao
lado do conjunto.
E por falar em meu filho, de repente me vi menino, aí pelo começo
da década de 50, tomando banho, nesse rio que não é mais o mesmo. Atravessamos
para o outro lado onde ficam os terrenos da Universidade do Piauí, e colhíamos
cajus maduros, bicados de passarinhos: eram mais saborosos. Inclusive a parte
do lado da castanha.
O silencio era grande, envolvente,
ouvia-se apenas o ruído de insetos e o mergulho do anzol dentro d’água, até que
começamos a falar. E aí me lembrei do tempo de minha infância quando pescava no
riacho da fazenda do meu pai, e cheguei uma vez a pescar um cágado.
De repente meti essa
recordação na conversa, e disse: eu pego até cágado.
Quando fechei a boca senti a fisgada no anzol embaixo d’água.
Puxei-o. Veio um cágado. A surpresa foi grande. Os colegas de pescaria ficaram
perplexos. Parece até historia de pescador. Mas aconteceu de verdade. Comprovando
o que eu disse. Tirei o bicho do anzol com bastante cuidado, e devolvi ao rio
para a sua família de quelônio, debaixo dos olhares curiosos dos meninos.
Os meninos da favela amigos de meu filho não compreenderam o
meu gesto. Bem que aquele cágado dava um caldo. Olharam para mim de través,
ressentidos. Terminada a pesca, voltamos para casa com uma história
inacreditável para conta
(Geraldo Borges)
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