domingo, 30 de outubro de 2016

PESCARIA



     
      
A última vez que pesquei no rio Poty eu morava no Conjunto Primavera II. Era só atravessar a Avenida Duque de Caxias e o Parque da Cidade, antigo bosque da Fazenda do prefeito José Olímpio de Melo, alcançava-se à beira do rio.

Começamos a pescar à boca da noite. Havia lua cheia e estava tudo claro, o leito do rio fluía e ainda não estava coberto de aguapés. Levávamos engodo feito de tapioca, grude, para servir de isca para as piabas. O plano era pegarmos piabas para fazer isca para pegar piranhas. Os pescadores, eram eu, meu filho, e alguns vizinhos da idade de meu filho, residentes da favela ao lado do conjunto.

E por falar em meu filho, de repente me vi menino, aí pelo começo da década de 50, tomando banho, nesse rio que não é mais o mesmo. Atravessamos para o outro lado onde ficam os terrenos da Universidade do Piauí, e colhíamos cajus maduros, bicados de passarinhos: eram mais saborosos. Inclusive a parte do lado da castanha.

O silencio era grande, envolvente, ouvia-se apenas o ruído de insetos e o mergulho do anzol dentro d’água, até que começamos a falar. E aí me lembrei do tempo de minha infância quando pescava no riacho da fazenda do meu pai, e cheguei uma vez a pescar um cágado.

De repente meti essa recordação na conversa, e disse: eu pego até cágado. 

Quando fechei a boca senti a fisgada no anzol embaixo d’água. Puxei-o. Veio um cágado. A surpresa foi grande. Os colegas de pescaria ficaram perplexos. Parece até historia de pescador. Mas aconteceu de verdade.   Comprovando o que eu disse. Tirei o bicho do anzol com bastante cuidado, e devolvi ao rio para a sua família de quelônio, debaixo dos olhares curiosos dos meninos.



Os meninos da favela amigos de meu filho não compreenderam o meu gesto. Bem que aquele cágado dava um caldo. Olharam para mim de través, ressentidos. Terminada a pesca, voltamos para casa com uma história inacreditável para conta

(Geraldo Borges)

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