domingo, 29 de novembro de 2015

DE TERROR E DE TERRORISTAS

(Edmar Oliveira)
 
desenho: Máximo

Eu sempre achei a intolerância religiosa uma das mais abomináveis. Dos monoteístas, então, é a intolerância exclusiva: se o meu deus é o certo, o teu não é. Defendi aqui que não se pode matar por um desenho, por mais que discordemos dele, apesar dos atenuantes dos que enxergavam provocação.

E agora?, porque mataram em Paris? Por blasfêmia, comportamento impuro? Ou porque os ocidentais fazem um terrorismo sistemático com bombardeios na Síria? Aqui o “olho por olho” toca mais em mim quando esse olho pode ser o meu. Quando me podem metralhar em um café em Paris, apesar de eu não ter nada com a guerra religiosa deles. Sou ateu.

Ah, esses deverão ser os maiores cassados pela fúria da intolerância religiosa. Apesar de uma recente pesquisa, sobre o comportamento de crianças, mostrar – como eu já suspeitava - que as crianças criadas sem religião são mais tolerantes com o próximo do que as crianças judias, cristãs ou muçulmanas. A condição de ser humano não precisa da religião para exercer a solidariedade, apesar de o Dostoievski encontrar um bom enredo para o seu romance “Crime e Castigo”. O ensino religioso faz ver em quem não é de sua religião um inimigo. O exercício da tolerância religiosa, ela mesma, já traz a intolerância aos que não são “eleitos” ou iguais a nós.  

Mas a ganância humana também é um estado egoísta do ser que o faz terrorista assassino. Não estou falando do fundamentalismo religioso. Mas o terrorismo do capitalismo sem limites, que aqui perto de nós, conseguiu matar talvez mais que a quantidades de vítimas dos atentados em Paris, devastou a flora e a fauna de novecentos campos de futebol, matou um rio e contaminou o mar, enlameou o bonito litoral do Espírito Santo, podendo chegar à Bahia.

Uma barragem de rejeitos da exploração mineral não é fiscalizada, rompe-se e faz uma devastação no maior crime ambiental dos últimos anos. As populações ribeirinhas estão ameaçadas pela morte do Rio Doce. Tribos de remanescentes indígenas não têm mais como viver às margens do rio morto. Populações de grandes cidades ficaram sem água literalmente, assistindo a morte do rio pela lama tóxica.

Culpa da ganância humana de donos de mineradoras com a cumplicidade de um Estado que não fiscaliza. E como um Estado pode exercer uma fiscalização efetiva se os capitalistas donos de mineradoras controlam os políticos por financiamento de campanha? Basta seguir o dinheiro investido pela Vale Mineradora a cada parlamentar, prefeitos, governadores para entender que os que deviam fiscalizar a mineradora são controlados financeiramente por ela.

Um crime que ficará impune pelo financiamento privado das campanhas políticas. Se quiserem uma razão para ser contra, esta é mais que suficiente. O terrorismo do Estado e do Capital mata mais e silenciosamente e é tão cruel quanto os abomináveis terroristas fundamentalistas do Estado Islâmico.


Paris por Clémentine Sarlat






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