domingo, 4 de outubro de 2015

MININO, SAI DO SOLO QUENTE!

(Edmar Oliveira)
desenho: Izânio

Outro dia, em pleno jornal Nacional, a linda moça do tempo sacaneou Teresina. Botou um filme, gravado num de nossos quintais da cidade velha, onde uma moça fritava um ovo esquentado a frigideira, com um pouco de óleo, no calor do meio-dia.

Nós mesmos nos sacaneávamos antes que algum aventureiro lançasse mão da ironia para criticar o sol escaldante de Teresina. Quando era jovem, me recomendavam não sentar ao meio dia na escadaria da Igreja São Benedito: podia sair com os ovos fritos. Um amigo contava que conhecia uma parreira no quintal de um árabe, que não dava uvas, dava passas que o árabe encaixotava e vendia na quitanda. Outro jurava que carne de sol, no interior, era só matar o boi ao meio dia: não tinha carne fresca, já estava tudo seca pra se vender como carne de sol. A gente ainda comia sardinha de lata com farinha e quem abria a lada dizia que o óleo ainda estava borbulhando. E já botei fogo em capim seco, ampliando o calor do sol com meus óculos de míope. Nada que um banho de rio não esfriasse a cabeça. E isso era entre nós, não era via internet – para todo Brasil como a moça do jornal Nacional.

Na internet teve até outra conterrânea que repetiu a tentativa de fritar o ovo, tentando provar que era armação. Podia tá correndo um vento ou não conseguiu daquela vez, mas “se a lenda é maior do que o fato, publique-se a lenda”. Não vou duvidar. Aprendi cedo que só tem um jeito honesto de dividir um pastel: um corta ao meio e o outro escolhe.

Fiquei foi matutando que tanto se fala do nosso calor, queixamos do nosso sol quente, mas não sabemos ainda usar esse calor para fazer energia.

Passei num fim de verão no interior da Andaluzia, na Espanha, e o calor tão intenso quanto na minha Teresina. Um mormaço de fim de tarde, uma terra árida sem serventia, uma falta de vento que não mexia um pé de pau, como dizemos no Piauí. Enquanto o suor molhava a camisa imaginei o meio do verão ainda mais quente e um inverno rigoroso, às vezes com neve. Pior que o torrão que conheço de nascença. Mas me espantei quando comecei a ver uma “plantação” de placas de energia solar a perder de vista. E foi crescendo de forma tão infinita quanto os canaviais do nordeste. Me disseram que investidores árabes produziam energia solar e vendiam ao governo. Para aproveitar aquelas terras que não têm valor pela aridez e falta de sustança para a agricultura.


Taí uma ideia que podia vingar no sertão do Piauí. Tanta terra sem serventia podia produzir energia. Já pensou se a gente ficasse independente e sobrasse energia pra vender? Aí a gente podia fritar ovo no sol quente, com orgulho de quem sabe aproveitar o nosso calor...

Tô só pensando com meus botões, mas acho se a ideia deu certo por lá, podia vingar por aqui para que essa crônica não fosse um delírio de quem pegou “muito solo quente na muleira, quando era minino”!




  

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