domingo, 13 de janeiro de 2008

NATAL: três notas tristes

Cinéas Santos

I


Devo ser um cavalo (naquela acepção umbandista do termo) tão ordinário que nem o espírito do Natal baixa em mim. Ainda assim, como qualquer "cristão civilizado", recebo e retribuo mensagens natalinas. Uma irmãzinha querida me mandou um e-mail com fotografias translumbrantes da gigantesca árvore de Natal que resplandece nas águas poluídas da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. No final, uma pergunta-queixa: - Por que não fazemos algo grandioso e belo aqui também? Por falta de melhor resposta, arrisquei: a cidade tem muitas necessidades e os recursos devem ser escassos. Na verdade, eu deveria ter dito que árvores de Natal, por maiores e mais resplandecentes que sejam, não me fascinam. Bicho miúdo, eu já ficaria feliz se pudesse ver cada teresinense cuidando da árvore do seu quintal, pobres árvores que ainda resistem apesar das parasitas (erva-de-passarinho) que as ameaçam. Nenhuma árvore de Natal, nem mesmo a de Nova Iorque, possui a nobreza de uma mangueira copada ou a beleza de um caneleiro florido. Quanto às "arvorezinhas" de garrafas pet que "embelezam" as praças e avenidas de Teresina, apenas uma queixa: fincaram uma delas em cima de um ipê branco que, a duras penas, plantei no balão das avenidas Petrônio Portela com Raul Lopes. Literalmente, asfixiaram a arvorezinha com garrafas de plástico e lâmpadas coloridas, que lhe queimam as folhas. Fazer o quê? Queixar-me a quem? Infelizmente, sensibilidade ainda não é "mercadoria" que se encontre à venda nem mesmo no imenso bazar em que se transformou o Natal.


II



No ano passado, eu e a cantora Luíza Miranda assumimos o compromisso de lançar uma campanha, em 2007, pela iluminação da velha ponte metálica, mais conhecida como "a ponte dos pobres". Foram tantas as labutas e atribulações que não cumprimos a promessa, e a ponte João Luís Ferreira, mais uma vez, em pleno Natal, permanece mergulhada no breu. Curiosamente, trata-se do "cartão-postal" oficial de Teresina e símbolo da administração do Dr. Sílvio Mendes. Por oportuno, vale lembrar que sua irmã gêmea, a ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, feericamente iluminada, é tratada como a "jóia preciosa" de Floripa. Por que a nossa permanece entregue à ferrugem? É simples: aquele sítio, o mais belo da cidade, tornou-se reduto de pobres, passagem de pobres, paisagem de pobres. Como hoje, no mundo, só existem consumidores e não consumidores, quem não consome não conta. Mais claro, impossível.



III



Enquanto os brasileiros entulham as residências com árvores de plástico recobertas com "neve" de algodão, a desembargadora federal Maria Selene de Almeida que, seguramente, não sabe onde fica o Piauí, concedeu liminar à JB Cabron para continuar o projeto"energia verde"(?) que reduzirá a carvão a cobertura vegetal da Serra Vermelha. Paradoxo à parte, esse crime ecológico traz as impressões digitais muitos políticos piauienses. Anote o nome deles em sua agenda e, no ano que se inicia, conceda-lhes merecidas férias. Assim seja.



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Mestre Cinéas comparece em janeiro falando do natal. Duas notas explicativas: no espaço sideral acontece destas coisas. Sendo as distâncias relativas, pode acontecer do natal cair no carnaval. Sem problemas. A outra é que o mestre está brabo: desanca o espírito natalino; queixa-se do espírito de porco que não ilumina a ponte João Luís Ferreira, símbolo inequívoco de Teresina; e mete o pau em quem desmata a Serra Vermelha. Portanto foi melhor ter passado o natal...

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